Justificativa exposição Flores para Anne Frank
Oscar Araripe / Poema para Anne Frank / Exposição Flores para Anne Frank
Justificativa Exposição Anne Frank / Oscar Araripe
Anne Frank, autora do mais famoso diário da atualidade, de inegável e surpreendente valor literário, é o símbolo mais puro e inocente do holocausto nazista. Homenagear e lembrar sua vida e sua obra, sublinhar sua importância, como pessoa e escritora, é relevar o Humanismo, em todos os seus aspectos, a saber: a tolerância no convívio humano, em todos os seus matizes, em defesa da Paz, da democracia, da justiça social, da educação, da liberdade de informação e do diálogo cultural. O neonazismo, crescente em várias partes do mundo, inclusive no Brasil, a necessidade de a ele se opor, através da arte, da cultura e da informação, coloca a Academia Brasileira de Letras, onde a exposição será inaugurada a 9 de novembro de 2023 , à altura de sua missão institucional na defesa e desenvolvimento das liberdades democráticas.
A coleção Flores para Anne Frank almeja, através da arte das cores, trazer a alegria e a beleza da esperança ao ambiente sombrio do holocausto, de todos os holocaustos.
Oscar Araripe é escritor e pintor, com obra de ficção publicada por grandes editoras e analisadas por importantes críticos, como os acadêmicos Antônio Houaiss e Eduardo Portela. Autor de um ensaio de sucesso, pioneiro, sobre a China, mereceu verbete na bibliografia do grande dicionário do acadêmico Aurélio Buarque de Holanda. Pintor profissional, com galeria pessoal e fundação cultural que leva seu nome, em Tiradentes, Minas Gerais, Araripe realizou mais de cem exposições, no Brasil e no exterior, inclusive, em 2010, na Galeria Manuel Bandeira, da ABL, sendo apresentado, no catálogo, pelo acadêmico Sérgio Rouanet e saudado na inauguração por Domício Proença Filho. Na companhia de Rouanet e Alberto Venâncio Filho, realizou palestra na ABL sobre o acadêmico e crítico Araripe Júnior, nas comemorações de seu centenário, em 2010.
Doutor Honoris Causa da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Oscar Araripe tem oferecido sua flores às instituições e personalidades de seu apreço, em várias exposições. Recentemente realizou a exposição Flores para Inimá, no Museu Inimá de Paula, em Belo Horizonte, Flores para Iguape, em São Paulo, e Flores para Harvard, no Massachusetts Institute of Technology – MIT, no Harvard Club de Boston, no Centro de Ciências e na Leverett House, da Harvard University, onde proferiu palestra no Theatre Auditorium sobre a arte e a cultura brasileira.
Em seu texto para o catálogo Cores como Flores como Luzes, o artista assim se coloca:
“Quando nasci, em 1941, Anne Frank tinha 12 anos e estava num esconderijo caçada pelos nazistas. Podíamos ter sido colegas, amigos. Aqui como lá, a Guerra, suas loucas razões, e não somente os ecos rudes da Guerra, se abateram sobre nós. Os sensíveis, os fragilizados, além dos judeus, os negros, os ciganos, os comunistas, os homossexuais, os artistas... eram os mais azarados. O medo adoecia as pessoas, ainda mais. Nosso vizinho, no bairro do Encantado, no Rio, era um quinta-coluna integralista e mantinha um rádio transmissor-receptor na sala. As condições sanitárias eram terríveis. Na rua, passavam os carros a gazogênio. Papai adicionava sal à manteiga e a vendia para comprar comida. Eu e meu irmão Octavinho contraímos disenteria bacilar. Ele morreu um mês depois, aos três anos. Eu, desenganado, apenas sobrevivi após inúmeras lavagens intestinais e “cavalares” e desesperadas aplicações de soro. Toda minha infância, toda minha vida escolar, foi marcada por esta guerra internalizada. Anne, vítima maior dos horrores da guerra, morreu de tifo, num campo de concentração de trabalhos forçados, pouco antes do fim do conflito. Nas páginas finais de seu diário, mesmo depois de tudo que sofreu, disse achar que as pessoas, no fundo, “eram boas”. E eram. Boas pessoas a ajudaram e à sua família. Eu, jovem idealista, vivi e venci novamente a guerra nos tempos da Ditadura de 1964, quando, procurando me manter são, acreditei que “esta” humanidade não era “a” Humanidade. Continuo acreditando”.