O lançamento de Imaculada / A Amazônia que nos deu à luz contou com um animado bare-papo de Helter Duarte com Oscar Araripe
Bate-papo e chap,chap...
Helter Duarte é um jornalista amante das artes, especialmente da Literatura e da Pintura. Recentemente foi homenageado com seu nome em uma biblioteca comunitária do Lins de Vasconcelos, subúrbio carioca, o que não é pouca coisa.
Fiquei muito feliz quando me visitou em Tiradentes e aceitou meu convite para "bater um papo" antes do lançamento carioca de meu livro Imaculada / A Amazônia que nos deu à luz, dia 28 de março, sexta-feira próxima, às 18:30, na Livraria Travessa de Ipanema.
Sem que soubesse, consegui saber duas perguntas, entre outras tantas, que me fará na ocasião.
De lambuja, respondo a duas delas:
- Oscar, qual a diferença entre um grande pintor e o gênio ?
- Helter, esta é uma pergunta de 1 milhão de yuans. Mas, vamos lá: o gênio é um grande pintor e o grande pintor pode ser um gênio. Depende de onde nasceu, se seu país tem cultura e projeção internacional e se de fato sua obra é inovadora. Um grande pintor precisa ter uma boa mão, um olho bom e um bom coração. Tem que ter essas três condições ao mesmo tempo. E mais sorte...
Quando eu era criança, o meu sonho era ser o maior pintor da minha rua. Uma rua feia, sem importância e sem nenhum pintor. Após 50 anos a pintando, já octogenário, ela se transformou na rua mais bonita do mundo, e eu num grande pintor. Até que um dia, um jornalista atento, do New York Times, disse que eu era um gênio. Mas, na minha rua, ninguém acreditou.
- Oscar, você disse que sua Imaculada era um "manual de sobrevivência". Como assim?
- Helter, todo bom livro é um manual de sobrevivência. Infelizmente, um bom livro é algo raro, pois o mercado é uma grande agência funerária. Ademais, como sabe, estamos todos armadilhados à caminho da extinção, carentes que estamos da pureza e da imaginação que nos daria a lucidez e a coragem para mudar a humanidade; daí esta minha "imaculada". Trascrevo aqui, caríssimo jornalista, extrato da página 251, onde conto um pouquinho deste pensamento:
...Cabanados apaixonados, sobreviventes do Grão-Pará, hoje bastante terminal, papai e mamãe militavam contra o individualismo triunfante, mas derrotado, que vigorava em toda Amá e mais além. Era preciso enterrar o humanismo individualista e substituí-lo pela civilização da pessoa - diziam. Parecia coisa à-toa, de quando a gente voa quando pensa, mas como voava longe aquele pensamento nascido naquelas cabanas pobres das beiras dos rios amazônicos, e que denunciavam Versailles, a Faria Lima, a Wall Street, a City, La Défense, Xangai. ...Pois bem, assim pensando, aqueles degradados cabanados resolveram escrever um documento aos participantes da COP 30, a conferência do clima das Nações Unidas, que estava se realizando em Belém, na verdade uma Carta, depois famosa, e que começava assim:
“Fraternos representantes dos países, corporações e instituições armadilhados na destruição do mundo.
Estimados humanos e androides, estimadas ginoides e caríssimos habillis:
Por amor e crença na inteligência, leiam este Manual de Sobrevivência e desarmardilhem-se.”
E seguiam-se numerosas páginas ‘scritas à maneira literária e que continuavam assim:
Viver é um ato de coragem - dizia mamãe. Seria eu, frágil pré-humano, corajoso o bastante para encarar um mundo com tão poucas caras amigáveis, multidões arrebanhadas à beira de precipícios nebulosos e altíssimos como o Pico da Neblina? Bem, sorte era ‘starmos canoando pelo Rio Rondon, ex-Roosevelt, chap, chap, chap, em direção ao Nhamundá. Até lá, eu e mamãe poderíamos pensar. Pensar era um ato de coragem - pensei, enquanto remava, chap, chap, chap, chap...