Oscar Araripe é um renomado artista brasileiro, escritor e pintor, nascido em 19 de julho de 1941, no Rio de Janeiro. Ele é conhecido por suas obras vibrantes e coloridas, que incluem pinturas de flores, paisagens e marinhas. Araripe também é um escritor publicado, com uma trilogia literária chamada "Maria, Marta e Imaculada, a Amazônia que nos deu à luz"; o ensaio "China, o Pragmatismo Possível" e o Artbook Oscar Araripe.
Principais realizações:
- Pintura: Introduziu a vela náutica de poliéster como suporte para pintura e desenvolveu técnicas próprias, como transparências obtidas por trás dos suportes.
- Exposições: Realizou quase uma centena de exposições individuais e coletivas no Brasil e no exterior, incluindo Estados Unidos, França, Espanha, Eslovênia, Grécia, Cuba, Angola, Reino Unido, China e México.
- Prêmios: Recebeu várias medalhas e prêmios, incluindo a Medalha de Ouro Arts, Science et Lettres, Medalha Tiradentes e Medalha Pedro Ernesto.
Vida pessoal e formação:
- Formou-se em Ciências Jurídicas e Sociais pela Universidade Federal do Rio de Janeiro.
- Foi militante do movimento Ação Popular e foi anistiado pelo governo brasileiro em 2012 pelas punições sofridas durante a Ditadura Militar de 1964.
- Foi bolsista na Universidade de Harvard em 1966, onde encontrou refúgio da perseguição política no Brasil.
1. Influências Artísticas: Quais foram as principais influências artísticas que o levaram a desenvolver seu estilo único de pintura, especialmente em relação ao uso de cores vibrantes e temas como flores e paisagens?
Autodidata, tudo me influenciou, nada me influenciou. Acho mesmo que somos todos o resultado desta fusão entre o aprendizado externo e as inclinações de gostos e aptidões internas. O autodidata, geralmente, naturalmente, inclina-se pelas opções internas, quase sempre movidas por sua intuição.
Há uma diferença entre cor e tinta. O trabalho do pintor é o de transformar, pelo talento, a tinta em cor. A cor é viva e vibra quando faz viver a tinta.
As flores surgem no planeta no Cretáceo inferior, trazendo uma grande novidade: a sedução. Ora, para nós, sedução é Amor. Estamos aqui por causa das flores. Pintar flores, hoje, é um ato político e poético a um só tempo, já que as flores naturais estão sumindo e sendo substituidas, muito mal substituidas, diga-se,pelas flores industrializadas. Estamos perdendo "a surpresa de uma flor".
Um bom pintor faz olhos. Faz paisagens. O olho é natural e cultural. O que o pintor pinta vira, portanto, realidade. Isto é; se sua pintura consegue plasmar a vida na tela.
2. Técnica Inovadora: Você é conhecido por introduzir a vela náutica de poliéster como suporte para a Pintura. Pode nos contar mais sobre como essa técnica surgiu e como ela influencia sua criatividade?
Perseguido, isolado numa montanha, como um príncipe paupérrimo fugindo da escravidão do trabalho pago, comecei a pintar, intuitivamente, no papel vegetal porque gostava de "correr com o pincel". Intituitivamente também, ao procupar um suporte mais durável, cheguei à vela náutica. À época não sabia, mas as telas de pintura sempre vieram das velas de barcos. Ademais, artista independente, não queria ser escravizado pelas galerias de arte e a vela náutica me permitia expor ao ar livre diretamente às multidões. E assim foi. Fiz exposições ao ar livre vistas por centenas de milhares...
Obviamente, fui "cancelado" pelas galerias, o que foi bom, já que me permitiu ser pioneiro também na modalidade "galeria pessoal". Abri minha primeira galeria pessoal em Ouro Preto, em 1990.
3. Transição para a Escrita: O que o inspirou a começar a escrever, e como você vê a relação entre sua arte visual e sua escrita? Há temas ou estilos que se repetem em ambas as formas de expressão?
Sempre escrevi e sempre pintei. São artes próximas. A literatura é um grito que cala. A pintura, um silêncio de grita. Escrevo pintando e pinto escrevendo. A diferença é que a pintura é um doce de coco e a escritura uma pedra rolando rio acima. A primeira faz o morto viver e a segunda mata o morto, fazendo-o viver. Eu pinto para que tudo vire pintura e escrevo para testemunhar a minha época. Faço ambos com prazer.
4. Sua trilogia "Maria, Marta e Imaculada / A Amazônia que nos deu à luz": Pode nos falar um pouco sobre ela? Quais foram os desafios e satisfações ao escrever essa obra, e como ela reflete sua visão de mundo?
Nasceu naturalmente, impercebidamente. Os desafios foram e são enormes. A literatura pode matar. Sua densidade, seu esforço mata. Pode matar e deve salvar, o escritor e o mundo. Eu mesmo quase morri, depois de 13 anos escrevendo à mão e a lápis este último livro desta trologia - e depois por mais 30 anos o reescrevendo e refletindo sobre o mundo que mudava e eu com ele. E´claro que eu escrevo para salvar o mundo. Por isso, faço literatura, que é escritura artística. A questão é que estamos todos armadilhados em nossa própria destruição. A arte urge e ruge! O 21 será o século dos poetas e jardineiros ou não será século nenhum. Minha trilogia literária fala do Recomeço, do Carnaval da Elevação... artisticamente; pois só a arte diz mais que a realidade.
5. Vida e Arte: Como você equilibra sua vida pessoal com sua carreira artística e literária? Acha que sua vida pessoal influencia diretamente sua arte, ou vice-versa?
Vida é arte, Arte é Vida. É um equilíbrio delicado. "A delicated balance". Mas tudo que serve para a Arte serve para a Vida. E vice-versa.
6. Exposições Internacionais: Você teve a oportunidade de expor seu trabalho em diversos países ao redor do mundo. Qual foi a experiência mais marcante para você, e como você acha que sua arte é recebida de maneira diferente em diferentes culturas?
É certo que o morto e o vivo coexistem e se insinuam, mas o mundo está terminal. Faz uma arte decadente. Hoje tudo é arte, exceto a Arte. Não acredito em arte de países. O país mais rico dita a arte, é uma triste verdade. Mas a Arte, hoje, é pessoal ou não é arte. Éum momento, infelizmente, de guerra, de preconceitos, de todos contra todos. A armadilhação é geral. O dinheiro dita a arte, quando o verdadeiro dinheiro, sempre, foi e sempre será a Arte.
Minha arte, no exterior, seja de pintura ou de escrita, é recebida como algo novo. A minha pintura é aceita, cobiçada e universal, já a literatura carece de leitores. Estes, os leitores, estão armadilhados sem tempo para ler e assoberbados de desconcentração. Desconcentrar é armadilhar. Se minha literatura for sucesso, será por que o mundo está salvo e a humanidade desarmadilhada.
7. Ditadura Militar: Sua experiência durante a Ditadura Militar no Brasil teve um impacto profundo em sua vida e obra? De que maneira esses eventos históricos moldaram sua perspectiva artística e política?
Vencemos porque fomos derrotados - perdi, mas posso dizer com orgulho e consciência lavada que lutei contra a ditadura, coisa que os que estiveram apoiando e agindo pela ditadura teem vergonha de assumir; logo, vencemos. Mas, as ditaduras estão aí; disfarçadas na democracia.
Meu primeiro livro da trilogia, Maria na Terra dos Meus Olhos, lutou contra a ditadura mostrando que a nossa língua não podia ser reduzida, empobrecida pela falta de debate e consciência crítica. A repressão e o medo foi tanta e tanto quer a língua portuguesa quase sumiu. No último, Imaculada / A Amazônia que nos deu a luz, falo dos recomeços, onde "imaculada" ( talvez um novo gênero literário) tem a graça e a força de dar ao artista-escritor a pureza capaz de trazer a coragem indispensável aos recomeços.
8. Harvard e Exílio: Você foi bolsista na Universidade de Harvard nos anos 1960, fugindo da perseguição política no Brasil. Como foi essa experiência nos Estados Unidos, e como ela influenciou seu desenvolvimento artístico e intelectual?
Influenciou muito. O conhecimento, a mudança, na Harvard dos 60, estava nos campi, não nas salas de aulas. Eu fui um aluno dos campos de Harvard. Mas, talvez, deva à Harvard a minha própria vida. Física e artística: meu primeiro grande museu foi o Fogg. Recentemente, depois de 50 anos, voltei à Harvard, a convite, expondo minhas flores em quatro espaços culturais; dei uma palestra no Auditorium da Leverett House sobre a Arte e a Cultura brasileiras e entronizei uma tela no MIT e outra no Rockfeller Center for Latim American Studies. Durante 1 mês fui fellow convidado. Senti-me muito honrado. Hoje, sinto-me feliz, por ver que Harvard está resistindo ao fascismo.
9. Legado Artístico: Olhando para trás em sua carreira, qual você acha que é seu maior legado como pintor e escritor? O que você gostaria que as futuras gerações lembrassem sobre seu trabalho?
A minha lápide imaginária: "Eu pinto e escrevo para viver de cores e morrer feliz".
10. Projetos Futuros: Quais são seus planos e projetos futuros, tanto na pintura quanto na escrita? Há algum tema ou técnica específica que você está ansioso para explorar em seu próximo trabalho?
Sim. Gostaria de poder contar o dia em que recusei o Prêmio Nobel da Paz e da Literatura por preferir pintar um jarro de flores. Anseio por este glorioso dia.