LIVRO - Oscar Araripe IMACULADA : A Amazônia que nos deu à luz 624 páginas | 36 ilustrações originais. R$ 95,00/ com dedicatória e envio pelos Correios.
Oscar Araripe ganha o título de Cidadão Honorário de Fortaleza
A Camara Municipal de Fortaleza, por iniciativa do Vereador Danilo Lopes, concede o título de Cidadão de Fortaleza a Oscar Araripe
Fala de agradecimento de Oscar Araripe na Câmara Municipal de Fortaleza, Ceará, em 16/12/2024:
O Ceará é a minha alma mater. A fortitude da minha literatura e da minha genealogia.
Meu avô, Oscar de Alencar Araripe, jovem ainda, trabalhou como livreiro numa das primeiras livrarias de Fortaleza, a Seleta, na rua Major Facundo, num tempo em que o livreiro recomendava aos clientes os livros que deviam ler. Cacá, como o chamávamos, adorava futebol e foi um dos fundadores do Guarany Athletic Club. Era um intelectual que gostava de futebol, boxe e murici com farinha no café da manhã. Seu irmão, Raymundo de Alencar Araripe, prefeito de Fortaleza por dez anos, foi quem inaugurou a Cidade da Criança, de nome tão singular; um lugar pioneiro, simpaticíssimo, útil e amado por todos.
Nascido no Rio, eu fui criado no mundo cearense da casa do meu avô, na Tijuca, bairro da classe média carioca, onde conheci o biju e a tapioca, deitei-me e brinquei numa grande e generosa rede de lindos rendados cearenses que ele logo pela manhã armava em nosso jardim. Foi lá que eu conheci a graviola e a passa de caju e plasmei para sempre o gosto maravilhoso das coisas do Ceará.
Sua biblioteca, chamada por ele, exemplarmente, de gabinete, era inesquecivelmente linda, com suas estantes envidraçadas trancadas por chaves delicadas que nos convidavam a abri-las. Ali eu conheci um pouco da literatura cearense, em livros dedicados e caprichosamente encadernados ou simplesmente adquiridos por ele: Adolfo Caminha, Domingos Olímpio, Antonio Sales, Quintino Cunha, Floro Bartolomeu, Rachel de Queiroz, Araripe Júnior, José de Alencar, Mário Alencar, Juvenal Galeno, Rodolfo Teófilo, Catulo da Paixão Cearense, Nertan Macedo, Patativa, Lúcia Fernandes…
Ele, e minha mãe, Oscarina de Alencar Araripe, me contaram que nossa família guardava a honra de ter heróis: Barbara de Alencar, hoje no Panteão de Brasília, é a mãe da independência e da república brasileira; seu filho, Tristão de Alencar Araripe, presidente eleito da Confederação do Equador, nos brindou com o sobrenome Araripe e foi fervoroso republicano e abolicionista. Infelizmente, inexplicavelmente, a Avenida que leva seu nome, aqui em Fortaleza e no Crato, ainda exibe a grafia Tristão Gonçalves, quase uma traição a alguém que ao lutar e dar a sua vida pela nossa independência repudiou o nome português e adotou o gentílico indígena.
Fortaleza, para nós, portanto, é parte inseparável da nossa história. Aqui, minha sexta avó, a Dona Bárbara do Crato, foi aprisionada numa solitária da fortaleza de Nossa Senhora da Assunção. Barbara teria sido a primeira presa política no Brasil. Não longe dali, no cemitério do Passeio Público, Ana Triste de Alencar Araripe, esposa de Tristão, permanece enlutada longe de seu amado marido. Um dia, visitando Nova Jaguaribara, passando por seu cemitério, “senti” estar ali alguns dos ossos do esquartejado Tristão; relíquias que escaparam da inundação de seu túmulo quando da construção do açude do Castanhão. Ora, o amor de Ana e Tristão é um dos mais lindos de que tenho conhecimento, em toda a história universal. Assassinado Tristão, Ana agregou o aposto “Triste” a seu nome e vestiu luto por toda a vida... quem sabe, um dia, com ou sem os ossos de Tristão, Ana e Tristão possam descansar juntos em Fortaleza e assim possamos contar melhor e mais bonito a história de seus feitos e de seu grande amor.
Agradeço, muito alegre e feliz a honra de ser agora um cidadão desta formidável cidade, gentileza do vereador Danilo Lopes, que me visitou em Tiradentes, em Minas, e desde então nos tornamos amigos para sempre – e por ter o privilégio de poder entronizar nesta Casa a minha tela homenageando o Dragão do Mar, que pintei em Fortaleza, quando aqui morei por um ano, em 2001. A força, a resistência, a consciência do porvir de Francisco José do Nascimento, o Dragão do Mar, mui bem representam a essência do Ceará, Estado pioneiro de muitas conquistas; entre elas, a libertação dos escravizados.
Coincidentemente, ao receber estes convites, estava sendo publicado o meu último livro: Imaculada, a Amazônia que nos deu à luz -, uma alentada prosa literária de 682 páginas e 32 ilustrações - e que conta, entre outras, a saga de uma família de retirantes cearenses na Amazônia. Nada melhor, nada maior, portanto, que lançá-lo, nacionalmente, aqui nesta minha agora também amada cidade, o que faço triplamente honrado e com a graça das palavras da minha amiga, a escritora Glória Diogenes.